Meu ex-cônjuge não cumpre o regime de visitas: o que posso fazer legalmente?

Ex-cônjuge não cumpre o regime de visitas: criança com expressão triste sentada no canto, ilustrando os impactos do descumprimento da convivência.
Imagem ilustrativa sobre o descumprimento do regime de convivência e seus efeitos na criança.

Neste artigo, explico de forma simples quais são os seus direitos, como reunir provas, quais medidas extrajudiciais podem ajudar e quando é hora de procurar o Judiciário. Tudo com linguagem acessível e foco no que realmente funciona na prática.

Ex-cônjuge não cumpre o regime de visitas: por onde começar?

Quando o ex-cônjuge não cumpre o regime de visitas, a primeira reação costuma ser frustração. A rotina da criança é afetada, e a do responsável também. Antes de qualquer medida, é importante compreender dois pontos fundamentais:

  1. O direito de convivência é da criança. Pais e mães têm o dever de promover o vínculo.
  2. O que vale é o que está escrito e homologado. Se há acordo ou sentença, o cumprimento é obrigatório.

O Código Civil garante a convivência de quem não detém a guarda, além do direito de acompanhar educação e saúde do filho. Em termos simples: se existe regime definido, ele deve ser respeitado. Quando isso não acontece, há caminhos eficazes para resolver.

O que é o regime de visitas e por que ele é importante

O regime de visitas, também chamado de regime de convivência, define dias, horários, feriados, férias, e regras de busca e devolução da criança. Ele dá previsibilidade à rotina do menor e reduz conflitos entre os responsáveis.

Aspectos que costumam constar no regime de convivência:

  • Dias e finais de semana de cada responsável
  • Horários e locais de busca e devolução
  • Regras para feriados, aniversários e férias escolares
  • Permissões para viagens nacionais e internacionais
  • Formas de contato quando a criança não está com o outro responsável

Se o ex-cônjuge não cumpre o regime de visitas, é sinal de que algo precisa ser ajustado — seja por diálogo, mediação ou decisão judicial.

Situações comuns de descumprimento

Alguns exemplos frequentes:

  • Faltas sem justificativa nos dias de convivência
  • Atrasos constantes na busca ou na devolução
  • Retenção da criança além do horário combinado
  • Impedimentos ou obstáculos à convivência
  • Mudança de endereço sem aviso, dificultando a logística
  • Viagens sem autorização nos dias do outro responsável
  • Desrespeito às regras de contato por telefone ou videochamada

Em qualquer desses casos, é importante registrar os fatos. Transformar lembranças em provas objetivas aumenta muito as chances de uma solução rápida quando o ex-cônjuge não cumpre o regime de visitas.

Como provar o descumprimento

Sem provas, a Justiça tem dificuldade para agir. Registre os fatos de forma organizada.

Provas úteis e simples de reunir:

  • Mensagens e e-mails com data e hora
  • Atas notariais de conversas frequentes em conflito
  • Registros escolares indicando quem buscou a criança
  • Relatórios médicos ou terapêuticos que apontem prejuízos à rotina
  • Testemunhas que presenciaram faltas ou atrasos
  • Aplicativos de coparentalidade com calendário de convivência
  • Boletim de ocorrência apenas em caso de risco, ameaça ou retenção indevida

Organize tudo em ordem cronológica. Um diário de ocorrências é muito útil quando o ex-cônjuge repete o descumprimento.

O que fazer antes de acionar a Justiça

Nem todo conflito precisa virar processo. Muitas vezes, o diálogo e o bom senso resolvem.

Ações extrajudiciais que podem ajudar:

  • Converse por escrito, de forma objetiva e respeitosa
  • Ajuste horários quando houver mudança de rotina ou endereço
  • Procure um CEJUSC (Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania)
  • Peça orientação ao Conselho Tutelar se o direito de convivência da criança estiver sendo prejudicado

Se o ex-cônjuge continuar descumprindo o regime, há medidas judiciais disponíveis.

Medidas judiciais cabíveis

Cumprimento de sentença ou acordo homologado
Quando há decisão judicial ou acordo assinado, o descumprimento autoriza pedido de cumprimento de sentença, com multa por evento de atraso ou impedimento, a chamada astreinte.

Multa administrativa
O Estatuto da Criança e do Adolescente permite multa administrativa a quem descumpre deveres do poder familiar. É uma forma adicional de coibir o comportamento.

Tutela de urgência para garantir a convivência
Em casos de impedimento sistemático, é possível requerer medida urgente para assegurar o direito de convivência imediata, inclusive por meio de videochamadas ou local neutro para entrega.

Busca e apreensão da criança (em situações excepcionais)
Quando há ordem judicial descumprida, o juiz pode determinar busca e apreensão para garantir o cumprimento. É uma medida extrema e usada com cautela.

Readequação do regime de convivência
Se as faltas e atrasos são constantes, o juiz pode ajustar o regime conforme a realidade atual das partes.

Alienação parental
Quando há desqualificação, manipulação emocional ou tentativa de afastamento, é possível requerer medidas previstas na Lei 12.318/2010, como advertência, multa, acompanhamento psicológico ou alteração de guarda.

Mudança de guarda em casos graves
Se o comportamento prejudica o desenvolvimento da criança, o juiz pode alterar a guarda, desde que haja provas consistentes.

Dúvidas práticas

E se o ex-cônjuge não busca a criança?
Não há obrigação de reorganizar toda a rotina. É possível incluir no acordo cláusulas de tolerância (como 30 minutos), comunicação prévia e direito de preferência.

E se há atraso na devolução?
Atrasos pontuais podem gerar multa. Retenção deliberada pode justificar medidas urgentes, como busca e apreensão.

E se o ex-cônjuge mudou de cidade?
Deve-se ajustar horários, meios de transporte e divisão de custos, podendo o regime ser readequado judicialmente.

E nas férias?
As férias costumam ser divididas em partes iguais ou alternadas por ano. Viagens internacionais exigem autorização do outro responsável ou decisão judicial.

Boas práticas para reduzir conflitos

  • Planeje o calendário com antecedência
  • Mantenha comunicação respeitosa e objetiva
  • Combine locais neutros para entrega e devolução
  • Compartilhe informações sobre escola e saúde
  • Use aplicativos de coparentalidade para registro das comunicações

Essas práticas demonstram cooperação e boa-fé, fortalecendo sua posição jurídica se o ex-cônjuge continuar descumprindo o regime.

Cláusulas úteis para acordos

  • Dias e horários fixos de entrega e devolução
  • Tolerância de até 30 minutos
  • Avisos com antecedência mínima de 24 horas
  • Contato remoto por videochamada em dias definidos
  • Alternância de feriados e férias escolares
  • Informar roteiro e contatos em caso de viagem

Clareza reduz riscos de novos conflitos e descumprimentos.

Quando acionar o Ministério Público ou o Conselho Tutelar

  • Ministério Público: atua como fiscal da lei em processos que envolvem interesse de crianças e adolescentes.
  • Conselho Tutelar: pode registrar ocorrências e orientar medidas administrativas.

Esses órgãos não substituem o processo judicial, mas reforçam a proteção da criança quando o ex-cônjuge descumpre o regime de visitas de forma reiterada.

Erros comuns que dificultam a solução

  • Fazer boletim de ocorrência sem necessidade
  • Discutir na frente da criança
  • Falta de provas documentais
  • Retaliar descumprindo o regime também

Checklist para organizar as provas

  • Mensagens e registros de conversa
  • Relatórios da escola
  • Planilha de faltas e atrasos
  • Testemunhas
  • Atas notariais
  • Relatórios médicos ou psicológicos
  • Prints de aplicativos de convivência

Quanto mais clara a documentação, mais ágil tende a ser a solução.

Perguntas frequentes:

Existe crime específico para quem impede visitas?

Não. O caminho é cível, com multa, readequação e medidas judiciais.

Posso registrar boletim de ocorrência por atraso?

Somente se houver risco, ameaça ou retenção indevida.

E se o ex-cônjuge desapareceu e não busca mais a criança?

Peça judicialmente a readequação do regime, com aplicação de multa e regras de preferência.

Falar mal do outro responsável para a criança interfere?

Sim. Pode configurar alienação parental, sujeita a medidas legais.

Posso impedir a visita por falta de pagamento de pensão?

Não. Pensão e convivência são questões distintas e devem ser tratadas separadamente.

Conclusão

Quando o ex-cônjuge não cumpre o regime de visitas, a prioridade deve ser o bem-estar da criança. Registre os fatos, busque diálogo e, se necessário, recorra à Justiça. Com provas objetivas e postura colaborativa, é possível garantir o direito de convivência e reduzir o desgaste para todos os envolvidos.

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