Audiência de custódia: 5 pontos para se preparar bem

Juiz com martelo, balança e livros simbolizando audiência de custódia
Objetos que representam a audiência de custódia: martelo do juiz, balança e documentos do processo

Desde 2015, todas as pessoas detidas devem ser apresentadas a um magistrado em até 24 horas, conforme resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O objetivo? Proteger a dignidade do preso, verificar se houve abuso policial e analisar se a prisão realmente precisa continuar.

Mas muita gente chega sem saber o que dizer, quais documentos levar ou que perguntas serão feitas. Já se perguntou como se preparar para esse momento? Este artigo explica, em linguagem simples, os cinco passos essenciais e traz exemplos práticos para quem nunca passou por isso.

O que é audiência de custódia, afinal?

A audiência de custódia é um ato processual em que o preso em flagrante é apresentado a um juiz, na presença do Ministério Público e da defesa, para que se avaliem:

  • Legalidade da prisão (houve abuso? mandado foi cumprido corretamente?).
  • Necessidade de manter a detenção ou aplicar medidas alternativas.
  • Integridade física (o preso sofreu violência ou tortura?).
  • Resolução 213/2015 do CNJ – regulamenta o prazo de 24 horas.
  • Pacto de San José da Costa Rica – tratado internacional de direitos humanos ratificado pelo Brasil.
  • Art. 310 do Código de Processo Penal (CPP) – determina que o juiz, após ouvir o preso, pode:
    • relaxar a prisão ilegal;
    • converter em prisão preventiva;
    • conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.

Exemplo real: em 2023, o Tribunal de Justiça de São Paulo relaxou uma prisão após constatar, na audiência de custódia, que o detido estava algemado de forma abusiva e sem fundamentos.

Por que a audiência de custódia é tão importante?

  • Evita prisões desnecessárias, reduzindo a superlotação carcerária.
  • Coíbe maus-tratos — o juiz pergunta diretamente ao preso se houve violência.
  • Garante contraditório imediato: defesa e Ministério Público expõem argumentos na hora.
  • Permite cautelares menos duras (tornozeleira, fiança, proibição de contato).

Sem essa etapa, muitas pessoas permaneceriam presas por meses sem sentença, ferindo o princípio da presunção de inocência.

5 pontos para se preparar bem

1. Conheça seus direitos essenciais

Antes de tudo, é preciso saber o que a lei garante:

  • Falar com um advogado ou defensor público antes da audiência.
  • Ficar calado se não se sentir confortável para responder.
  • Denunciar qualquer agressão física ou verbal sofrida na prisão ou no trajeto.
  • Apresentar documentos que provem endereço fixo, trabalho ou estudo.

Dica prática: memorize telefones de familiares e advogados ou mantenha uma lista no bolso. Assim, em caso de prisão, você consegue pedir ajuda rapidamente.

2. Organize documentos que provem vínculos

Juízes costumam avaliar se a pessoa tem raiz na comunidade. Isso reduz o risco de fuga e fortalece um pedido de liberdade provisória. Leve ou peça para a família entregar:

  • Carteira de trabalho ou contracheque.
  • Contrato de aluguel ou conta de luz em seu nome.
  • Comprovante de matrícula escolar ou universitária.
  • Declaração de dependentes (filhos, pais idosos).

Esses papéis mostram que a prisão pode gerar prejuízos graves não só para o investigado, mas também para terceiros inocentes que dependem dele.

3. Prepare seu relato

Durante a audiência, o juiz costuma perguntar:

  1. Como a prisão ocorreu?
  2. Houve violência ou ameaça?
  3. Qual é sua profissão e endereço?
  4. Tem antecedentes criminais?

Fale com clareza, use frases curtas e evite versões contraditórias. Se não lembrar de detalhes, diga exatamente isso — “não me recordo” vale mais do que inventar algo.

4. Combine a estratégia com a defesa

Advogado e cliente devem decidir juntos:

  • Se é melhor ficar em silêncio.
  • Quais testemunhas podem confirmar maus-tratos ou explicar o contexto do flagrante.
  • Quais medidas alternativas serão sugeridas (fiança, tornozeleira, comparecimento periódico).

Pergunta retórica: qual juiz manteria alguém preso se o próprio Ministério Público concordar com uma cautelar mais branda?

5. Atenção aos prazos e recursos

Se o juiz converter a prisão em preventiva, a defesa pode:

  • Pedir relaxamento se a prisão foi ilegal.
  • Solicitar reconsideração com novas provas.
  • Impetrar habeas corpus em tribunal superior.

Prazo é curto: decisões costumam sair na própria audiência ou nas horas seguintes, por isso a organização prévia faz toda a diferença.

Perguntas frequentes

A audiência de custódia acontece nos fins de semana?

Sim. A Resolução 213 determina funcionamento ininterrupto. Alguns tribunais mantêm escalas de plantão para sábado, domingo e feriados.

E se eu não tiver advogado?

O Estado fornece defensor público. Ainda assim, familiares podem contratar um advogado particular a qualquer momento.

Posso falar com meus parentes durante a audiência?

Em geral, não. Mas eles podem aguardar na sala externa e entregar documentos à defesa, que os apresentará ao juiz.

Conclusão

A audiência de custódia não é mera formalidade. É o primeiro filtro contra prisões ilegais e abusos policiais. Chegar preparado — com documentos em mãos, relato coerente e apoio jurídico — aumenta as chances de uma decisão justa, seja ela pela liberdade provisória ou por uma medida cautelar mais leve.

Quanto melhor você se organiza antes das 24 horas, maior a proteção aos seus direitos fundamentais.

Resumo rápido: checklist para a audiência de custódia

  • Direitos básicos: falar com advogado, silêncio, denunciar agressões.
  • Documentos: endereço fixo, emprego, estudo, dependentes.
  • Relato: objetivo e verdadeiro.
  • Estratégia: alinhada com a defesa (cautelares possíveis).
  • Recursos: relaxamento, reconsideração, habeas corpus se converter em preventiva.

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