PENAL na prática: se você foi chamado para depor, este guia explica seus direitos, seus deveres e os passos para se preparar com segurança, sem prometer resultados e com base na legislação.
Nesse post:
PENAL na prática: o que significa ser chamado para depor
Ser chamado para depor é ser convidado ou intimado a prestar informações em uma investigação ou processo. Dependendo do seu papel, as regras mudam.
Quem você pode ser no procedimento
- Testemunha: pessoa que presenciou ou sabe algo relevante. Tem dever de dizer a verdade, salvo hipóteses legais de escusa.
- Investigado: pessoa sobre a qual recai suspeita. Tem direito de permanecer em silêncio e de não se autoincriminar.
- Vítima: pessoa ofendida pelo crime. Em geral relata os fatos, pode apresentar documentos e indicar provas.
Direitos e deveres no depoimento sob a ótica PENAL
Se você é testemunha
- Dever de dizer a verdade.
- Direito a tratamento respeitoso e ambiente adequado.
- Pode pedir esclarecimentos sobre perguntas confusas.
- Pode ser dispensada de depor se for parente próximo do acusado nas hipóteses legais ou se estiver protegida por sigilo profissional.
- Se faltar sem justificativa, a autoridade pode marcar nova data e adotar medidas legais previstas no CPP.
Se você é investigado
- Direito de permanecer em silêncio sem que isso seja interpretado contra você.
- Direito de ser acompanhado por advogado durante o ato.
- Direito de não produzir prova contra si, inclusive recusando colaborações que violem esse princípio.
- Direito de consultar elementos já documentados da investigação por meio do advogado, quando necessários ao exercício da defesa.
- Dever de manter respeito no ato e não atrapalhar a colheita de prova.
Se você é vítima
- Direito de ser ouvida em condições adequadas e de indicar provas.
- Direito de ser informada sobre a evolução do caso conforme regramentos aplicáveis.
- Pode ser acompanhada por advogado.
Passo a passo: como se preparar para depor
Antes do depoimento
- Leia a intimação com atenção. Verifique data, horário, local e autoridade responsável.
- Identifique seu papel: testemunha, investigado ou vítima.
- Procure orientação jurídica. Um advogado esclarece direitos e ajuda a evitar equívocos.
- Separe documentos úteis: identificação com foto, cópias de e-mails, prints, laudos, contratos e anotações com datas e horários.
- Organize lembranças em ordem cronológica. Registre o que viu, quem estava presente, onde e quando.
- Se não puder comparecer, justifique formalmente e peça remarcação com antecedência.
Durante o depoimento
- Leve documento de identificação.
- Ouça a pergunta até o fim. Responda com calma e objetividade.
- Diga que não se lembra se for o caso. Evite suposições.
- Se você é investigado e a pergunta puder incriminar, exerça o direito ao silêncio.
- Peça que sua resposta seja consignada tal como foi dada.
- Se algo estiver impreciso na ata, solicite correção antes de assinar.
Depois do depoimento
- Guarde a cópia do termo, se houver.
- Anote o número do procedimento e a unidade responsável.
- Se você é investigado, alinhe com seu advogado os próximos passos, como pedidos de acesso a peças do inquérito quando cabíveis, produção de provas e eventuais medidas de proteção às garantias.
- Se você é vítima, acompanhe a tramitação pelos canais oficiais e atualize seus contatos.
Documentos e organização
- Documento de identidade com foto.
- Intimação recebida.
- Provas relacionadas ao fato: contratos, mensagens, imagens, laudos.
- Lista de pessoas que presenciaram os eventos, com formas de contato.
- Linha do tempo resumida com datas e locais.
Prazos e comparecimento
- A intimação indica data e horário. Se houver impossibilidade real de comparecimento, apresente justificativa formal com antecedência.
- O não comparecimento injustificado pode gerar medidas legais, especialmente para testemunhas.
- Investigados não podem ser conduzidos coercitivamente para interrogatório, conforme entendimento do STF, mas devem manter endereço atualizado e atender às convocações dentro dos limites legais aplicáveis.
Custos públicos e assistência jurídica
- Prestar depoimento não tem custo público.
- Podem existir custos administrativos para emissão de cópias ou certidões, quando solicitadas.
- Quem não pode pagar advogado pode buscar orientação na Defensoria Pública do estado.
Riscos e cuidados comuns
- Contradições relevantes podem comprometer a credibilidade do relato.
- Exageros e suposições atrapalham a investigação e podem gerar responsabilização se configurarem falsa imputação ou falso testemunho, conforme o caso.
- Divulgar detalhes do procedimento em redes sociais pode expor dados sensíveis e prejudicar a estratégia jurídica.
- Não entregue dispositivos ou senhas sem orientação jurídica quando a medida tocar em seu direito de não se autoincriminar. Avalie com o advogado a legalidade de ordens específicas e as vias de impugnação.
Exemplos práticos
- Testemunha de acidente de trânsito: leve fotos do local, anote placas e horários. Se não lembrar de detalhes, diga apenas o que efetivamente recorda.
- Investigado por suposta fraude contratual: compareça com advogado, leve o contrato e a troca de e-mails. Se a pergunta puder incriminar, registre o exercício do direito ao silêncio.
- Vítima de ameaça em aplicativo: salve capturas de tela com data e hora e identifique perfis envolvidos.
Quando procurar um advogado
- Sempre que você for investigado ou houver risco de autoincriminação.
- Quando não entender sua posição no procedimento.
- Para revisar termos do depoimento e pedir correções.
- Para avaliar medidas como pedido de acesso aos autos, impugnações ou, em situações de constrangimento ilegal, eventual habeas corpus.
Leia tembém:
- Habeas Corpus: O Que É, Quando Cabe e Como Funciona na Prática
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- 7 pontos essenciais sobre processo penal que você precisa saber
- Prisão preventiva: quando ocorre e como contestar
Perguntas frequentes
Posso ir depor sem advogado?
Pode, mas se você é investigado, a orientação técnica é importante para proteger seus direitos.
Testemunha pode ficar em silêncio?
Em regra deve dizer a verdade. Parentes próximos do acusado e profissionais sujeitos a sigilo legal podem se escusar nas hipóteses previstas em lei.
Se eu não lembrar de algo, posso dizer que não lembro?
Sim. Diga apenas o que efetivamente recorda. Não complemente com suposições.
Posso corrigir o termo antes de assinar?
Sim. Peça que conste exatamente o que foi declarado e confira com atenção.
Fui intimado como testemunha, mas as perguntas podem me incriminar. O que fazer?
Informe que a resposta pode gerar autoincriminação e exerça o direito de permanecer em silêncio. Procure orientação jurídica.
Conclusão
Depor é um ato relevante dentro do processo PENAL e exige preparo. Conhecer seus direitos e deveres, organizar documentos e buscar orientação jurídica quando necessário ajuda a evitar riscos e a conduzir o procedimento com segurança. Se quiser se aprofundar, veja os conteúdos relacionados indicados neste artigo.